Porcos podem ser a salvação de diabéticos

A maioria das pessoas provavelmente vê os porcos, na melhor das hipóteses, como uma fonte de subsistência ou, na pior, como animais glutões. Mas parece que nossos amigos suínos podem também ser valiosos na luta contra o diabetes tipo 1. Pesquisadores estão realizando experiências com novas maneiras de colher células de ilhotas produtoras de insulina em porcos para transplantá-las em portadores do diabetes – na esperança de um dia reduzir a necessidade de doses diárias de insulina e até mesmo substituí-las por tratamentos com células de ilhotas duas vezes ao ano.

No diabetes tipo 1, o sistema imunológico ataca e destrói as células de ilhotas produtoras de insulina no pâncreas. A empresa de biotecnologia MicroIslet Inc., em San Diego, Califórnia, está desenvolvendo um tratamento em que as ilhotas suínas produtoras de insulina são implantadas no peritônio (membrana fina que reveste a cavidade abdominal) de uma pessoa, a partir de um cateter externo, passando por um tubo inserido no estômago.

“Os transplantes de ilhotas humanas também podem funcionar, mas o método não representa uma oportunidade comercial, em razão do acesso limitado ao pâncreas [alguém precisa morrer para se obter as células],” afirma Keith Hoffman, membro da diretoria da MicroIslet. Essa escassez significa que “milhões de pessoas” não têm acesso aos transplantes de ilhotas que poderiam colocar a diabetes sob controle, ele acrescenta. No método de encapsulamento das células da MicroIslet (desenvolvido pela Duke University), as células de ilhotas suínas são isoladas do sistema imunológico humano com a ajuda de um escudo de alginato (um agente espessante derivado das algas marinhas), de modo que possam produzir insulina quando necessário sem serem destruídas por anticorpos humanos. Substâncias como a insulina, a glicose e o oxigênio são capazes de se passar livremente pelo alginato.


A MicroIslet não é a única companhia que está pesquisando um tratamento para o diabetes por meio de xenotransplante (transplante entre espécies) encapsulado. A empresa de biotecnologia australiana Living Cell Technologies, Ltd. está testando ilhotas suínas neonatais encapsuladas em gel de alginato, o DiabeCell, que também podem ser transplantadas para o tratamento de pacientes com diabetes que dependem de doses de insulina. O primeiro paciente do DiabeCell recebeu o implante em junho de 2007, e este ano a empresa planeja concluir seu ensaio clínico na Rússia. Já MicroIslet pretende levar adiante esse procedimento, melhorando a durabilidade das ilhotas microencapsuladas de modo que resistam à rápida deterioração (embora permitindo que se mantenham plenamente sensíveis), para com isso ampliar o intervalo entre os implantes. A MicroIslet adverte que, embora acredite que o xenotransplante possa ser uma solução terapêutica para milhões de diabéticos em todo o mundo, provavelmente não substituirá as injeções de insulina para todos os portadores da doença. O transplante pode não ser adequado para alguns diabéticos e outros talvez tenham que continuar a tomar as injecções (embora com menos frequência).

A insulina de porco é uma boa candidata para o xenotransplante em humanos, pois se diferencia da insulina humana em apenas um único aminoácido. Embora a Food and Drug Administration (FDA), órgão de controle de remédios e alimentos dos Estados Unidos, tenha aprovado os xenotransplantes de órgãos suínos, ainda não está claro por quanto tempo essas novas ilhotas conseguirão se manter funcionais no organismo humano, afirma Hoffman. “Se durarem de seis meses a um ano, seria possível fazer o tratamento nesses intervalos”, explica.
Artigo de Larry Greenemeier, adaptado por Scientific American

0 comentários:

Enviar um comentário

Twitter Delicious Facebook Digg Stumbleupon Favorites More